A decisão de interromper a vida para acabar com a fonte de agonia e sofrimento que vem acometendo cada vez mais crianças e jovens atualmente, não surge como alternativa aleatória em um momento ou fase da vida de grande pressão. Ela surge pela ausência de orientação com relação a razão da vida, cuja construção de sentido deve começar dentro de casa ainda na primeira infância; quando a criança inicia a vida.
Cada vez mais cedo a criança se interessa por saber a respeito de si mesma e da vida. Quando não obtém respostas que se integrem com a realidade em que se traz e que a estruture intimamente, ela começa a sentir grande dificuldade para ‘autorar’ o próprio processo de construção e de consolidação da identidade. Como consequência, as personalidades que vão surgindo e passando a representá-la não refletem a própria essência por estarem espelhando personas e definições externas que não a representam. Isso contribui para a consolidação de conflitos existenciais e de um vazio que aumenta de acordo com as frustrações e expectativas não atendidas. Esse vazio existencial se acentua na puberdade e se intensifica ainda mais na adolescência.
Muitos tentarão simplificar dizendo que falta religião ou Hawaianas. A questão é mais complexa. É fato que dados estatísticos demonstram que pessoas que se trazem em algum tipo de crença se sentem muito mais capacitadas e plenas, mental/espiritualmente, diante de determinadas situações da vida. Também é sabido que inúmeros pais das gerações anteriores deixaram como herança educacional a crença no poder do tamanco voador.
Vivemos novos tempos.
O problema é que ‘adestrar’ condicionando pelo medo da violência ou do castigo – físico ou divino – pode coibir mas não necessariamente educar. Educar é quando a própria pessoas entende o valor do que lhe é apresentado e passa a desejar determinada forma de proceder porque depreende o benefício que ela proporciona à própria felicidade. Quando a decisão é dela, no uso do que ela elegeu como adequado e próprio, ela está educada.
E quando olhamos nossas crianças e jovens esvaziados pela falta de sentido da existência, pela falta de identidade e de ideais, pelo abandono de liderança e pela falta de estrutura educacional, psicológica e emocional diante de situações como ser preterido, desconsiderado, vítima de bullying, entre outros tantos tormentos que normalmente começam dentro da própria casa e as afogam nelas mesmos levando-as a decidir pelo suicídio para acabar com o desespero de carregar tanta angústia e sofrimento, perguntamos: mas o que está acontecendo com essa geração?
Pais e profissionais da área de ensino questionam-se por qual motivo uma criança, ainda na puberdade, não consegue aguentar o ritmo da vida. Algo certamente aconteceu e se formos analisar as pesquisas de mudança de hábitos e comportamentos começaremos a entender um pouco mais profundamente a questão. Crianças e jovens das gerações anteriores se relacionavam com decepções, frustrações, derrotas e perdas de uma maneira muito mais preparada do que as da geração atual. Será que as mudanças que se deram nos últimos 20 anos são as causas desses abalos sísmicos na estrutura psicológica e emocional do ser? O que de fato ocorreu?
Como aquilo que somos é fruto de toda uma educação, se torna fundamental que avaliemos algumas questões que ajudaram a alterar o cenário, os ambientes e alguns alicerces responsáveis pela formação do ser, que desde a infância funcionavam como elementos de orientação, anteamparo e auxílio na estruturação da personalidade e da identidade do indivíduo. Uma das principais causas é a alteração que se deu na célula máter social e educacional: a família.
Jamais perder a oportunidade de dar atenção a um pedido de um filho que se aproxima pedindo para conversar. Mesmo que o motivo não transpareça gravidade.
O que para um adulto pode se tratar de uma questão pueril, para a criança e o jovem tal questão pode assumir uma dimensão ‘esmagadora’ e ‘insuportável’.
A família como um todo mudou, e muito rapidamente. Mas ao contrário do que a maioria possa vir a pensar, não deu tão certo. Acreditamos precisará passar por outro processo de mudança. Só que dessa vez de maneira mais consciente e propositiva, se valendo do aprendizado que sofremos nos últimos anos. Precisamos rever a forma de se estruturar família e educação. Não se estrutura uma família casando com quem finalmente resolveu dar ‘mole’ e que numa iniciativa despretensiosa e precipitada, resolveu na mesmo noite se apresentar, deixar rolar, tirar a roupa, transar e depois de mostrar que ‘manda muito bem’, te enfeitiçar.
Por outro lado, não dá para educar alguém ensinando a se virar ou empurrando a tarefa para terceiros e cobrando dos outros a falta de resultado. Isso tudo tem prazo de validade, e esse prazo é muito curto. O resultado, em grande parte dos casos, já sabemos: separação, traição, abandono, deserção de liderança, impaciência e a fantasiosa ideia de que com dinheiro dá pra resolver tudo. Não retratamos aqui uma realidade geral, mas situações muito comuns e cada vez mais presentes na sociedade e nas redes sociais.
Diante de tantas situações que não param de se repetir, não basta apenas dizer que as coisas precisam mudar e deixar por isso mesmo. Mudar para o quê? Como proceder a mudança? E o mais importante, como se municiar devidamente para essa mudança?
Para se tornar competitivo no mercado de trabalho qualquer pessoa sabe correr atrás de graduações, pós-graduações, doutorados, cursos e MBAs. Mas para educar um ser humano, com seu complexo processo de funcionamento, a maioria de nós mal se presta a ler um livro e quando resolve fazê-lo, busca um com ‘dicas fáceis de como educar crianças difícieis’ nas prateleiras baratas de livrarias caras. Em se tratando de uma criança, a seriedade de uma alternativa de suicídio tem que ser de propriedade dos responsáveis da suposta vítima de si mesmo.
A verdade é que a responsabilidade é de todos: dos pais, de toda a família, dos professores, das empresas, da sociedade e do próprio ser.
O assunto é extenso e podemos estendendê-lo às estatísticas, opiniões, dados, culpas, responsabilidades, pontos de vistas e estudos, os mais diversos. Mas ao final, se cada um não se esforçar em dar o seu melhor, só restará um jovem, uma criança ou até um idoso à margem de nossa atenção, apesar de todos os sinais que emitiram, debruçados na dor ou em um parapeito na tentativa de uma fuga espetacular e milagrosa; na tentativa de acabar com um sofrimento que terão que levar consigo mesmos, seja para onde a vida, que transpassa a morte, os encaminhem.
Se a dor é íntima e consciente, emanada do fundo da alma, onde a garantia de que a falência dos orgãos nos isenta ou liberta dessa consciência?
Compreendemos que a educação e a ‘autocomunicação’ são os caminhos mais seguros de si mesmo no enfrentamento de si mesmo, diante da vida. Iluminar consciências ainda jovens passou a ser de uma responsabilidade seríssima que deve através da nova educação ser ministrada por pessoas sérias, com formação séria e propósitos sérios. Educar hoje preparando para a vida não é ‘empurrar’ um filho ou uma filha ao mundo permitindo que jovens passem a assumir precocemente o ônus de sua falta de preparo, estudo e experiência.
Educar é dedicação total. É renúncia, abdicação, sofrimento, horas em claro, vistorias em redes socias, celulares, mochilas, gavetas e roupas. É saber onde está, com quem está e a que horas retorna. É exigir e cobrar o cumprimento do respeito, da consideração, da disciplina, da colaboração e da resiliência moral; é estar de corpo presente o máximo que puder, ao menos enquanto os filhos estiverem na casa dos pais, não importando a idade.
A questão do suicídio atinge crianças e adultos. Em ambos os casos, saber ler os sinais é ‘essencial’. No caso do adulto, não suportar a própria angústia somado a não querer ser um peso para a família com suas dores e tormentos, o desloca. Este deslocamento holográfico consciencial é tão distorcido da realidade que ele desconsidera, por completo, o valor que sua presença agrega e o amor que a família lhe dirige.
Se o jovem não têm maturidade para saber o que é, quem é, qual o propósito da vida e qual o seu papel nela, não pode assumir o próprio protagonismo de sua história de vida. Ao contrário, demonstrará atitudes que o levam a dispor da vida de maneira desrespeitosa e suicida, destituída de valores e princípios. Isso, mais cedo ou mais tarde, vai trazer grandes problemas.
As festas inacabáveis, as drogas, o sexo precoce como experiências de alternativas de prazer em contraposição a tantas irrealizações, frustrações, apatias e falta de sentido na vida, começam como suicídios indiretos, matando a esperança e a vontade de viver, e terminam levando o ser a considerar como única alternativa plausível para o fim de seus tormentos, o término da própria existência.
Na concepção de quem não entende o que lhe acontece intimamente, aturdido pela angústia e sofrimento e sem estrutura, vira mais um número nas estatísticas.
Muitos pais poderão dizer que em seu tempo passaram pelas mesmas enfrentamentos e dificuldades e sobreviveram. Que isso tudo é bobagem e que essa é a vantagem e o preço de ser jovem.
A esses bons pais só podemos dizer três coisas: que os filhos de hoje são uma nova geração, muito diferente da deles; que o impacto de todas essas descargas experenciais que alguns pais chegaram a viver e ainda vivem na atualidade, afeta, atualmente, as novas gerações em dimensões e profundidades de seus universos psíquicos de uma forma bastante desconhecida mas profundamente letal ao equilíbrio dos seus canais de expressão e comunicação consigo mesmo e com o mundo; e por fim, que de acordo com as estatísticas atuais e suas projeções de curto, médio e longo prazo, esses pais devem mudar radicalmente a forma de viver e educar ou então se prepararem para o pior.
Não são poucas as vezes em que vemos pais em desespero, diante do filho que se desligou da vida. Pais que se culpam ou se justificam por anos, acordados para a triste realidade de que agora a questão já está encerrada.
É uma fato que nem sempre os pais conseguirão impedir essas fatalidades dentro de suas próprias casas. Mas ajuda saber que fizeram o possível.
Os casos de jovens ou adultos na qual a iniciativa do suicídio esteja, por diagnóstico e exames, correlacionado psicosomáticamente a um desequilíbrio bioquímico, – o que por sua vez pode afetar a forma da pessoa se ver e de se comunicar com ela e com o mundo – devem acertadamente ser encaminhados a um psiquiatra e psicólogo ‘especialistas’ que saberá proceder de forma cuidadosa e humana.
Este tratamento médico deve, em nossa forma de ver, vir acompanhado de um trabalho profundo de reeducação de si mesmo, para que o ‘Ser’, agora medicado e atendido, possa tratar das ‘causas’ de seu sofrimento e voltar a confiar e se sentir confortável em todos os seus universos de expressão. Para que possa voltar a dirigir sua vontade ao exercício saudável de novos ideais, sonhos, sentimentos e melhores emoções. Uma vida nova.
Não são todos os psicólogos que estão habilitados a desenvolver este processo. Aliás, são muitos poucos. Grande maioria, ainda insiste em ver o ser como “finito”, ou seja, com um fim em si mesmo.
UNIVERSOS DO SER. Centro de Educação e Atendimento do ‘Ser’ com foco no autoconhecimento e na Saúde Integral para uma Vida Nova.