Afinal, o que de fato incomoda, a quem incomoda e por que incomoda?

Longe de querer tomar qualquer partido ou de tomar como ponto de partida qualquer tentativa de acordo quanto a um alinhamento entre os diversos atores envolvidos sobre um conceito único para a palavra ‘preconceito’.  Poderíamos, buscando equalizar as diferentes opiniões em direção a um denominador comum, nos atermos a etimologia da mesma palavra, mas não é esse, o nosso propósito. Nosso interesse, aqui, é levantar algumas reflexões de base, daquele que vem sendo considerado o tema mais negligenciado e desrespeitado por todos nós: o egoísmo.

Durante anos a fio, diversas frentes e grupos na sociedade vêm buscando através de debates, embates e também da implementação de políticas públicas, destacar a importância de um Estado de Igualdade Social aliado a uma necessidade compulsória de se acatar e fazer cumprir o que define-se por direitos humanos. E mais, de ser obrigado a fazer isso sob um juízo que varia de acordo com o tom da narrativa dos envolvidos, dos interesses políticos de muitos e do estado de espírito de quem vai avaliar cada uma das denúncias levantadas.

Em contrapartida, essa mesma sociedade reivindica constitucionalmente a liberdade de poder expressar a própria opinião externando o que pensa e lutando para ter preservado o seu direito de manifestar sua discordância com relação a certas questões que não representam seus princípios e crenças.
Independente de qualquer ponto de vista, discriminar alguém por raça, cor, etnia, credo, religião, orientação sexual e portadora de deficiência ou necessidades especiais é crime previsto em lei, passivel de sanção penal, e isso não é suscetível de discussão. Mesmo assim, todo o cuidade jurídico e tantas campanhas não são suficientes para resolver a questão da discriminação que se estende e permanece ocupando destaque nas mídias e na sociedade.

A verdadeira questão que esse tipo de embate oculta é que a guerra que se trava sobre a premissa de que a maioria da população ainda sustenta diversos preconceitos e, por conta disso, destrata e pretere o outro por se apresentar de forma diferente, pôs uma lápide em um dos assuntos mais importantes da história da humanidade: a Educação. E nos referimos à educação nos seus mais diversos planos de atuação: espiritual, moral, familiar e social. É sabido que quando nos incomodamos ou não aceitamos algo e, em função disso, tratamos alguém de forma discriminatória, somos motivados por princípios e crenças que alimentamos pelo aprendizado e pelas experiências vividas e que se refletem em nossas atitudes e comportamentos.  A pergunta que devemos fazer é: Decidir ou ser levado a enxergar alguém pela sua diferença, denota precisamente o quê a respeito de quem age assim?

Princípios e crenças que nos levam a assumir atitudes e comportamentos que se desdobram em intolerância, em desrespeito, em covardia, em humilhação, em bullying ou em agressão, expressam falta de humanidade, de sensibilidade, de respeito, de ética e de moral. São valores e comportamentos que nascem do orgulho e do mais profundo egoísmo, e que conforme são manifestados vão anestesiando nossa sensibilidade para com o outro e para conosco mesmo.
Contudo, chama a atenção o fato de que quando uma situação de dor e sofrimento extremo ocorre – guerra, incêndio, catástrofes naturais – seres de raças, credos, orientações e religiões diferentes reunem-se para se ajudar, e essas crenças e princípios que nos levam a agir de forma desumana e antinatural desaparecem e perdem relevância diante do sentimento de humanidade que toma conta da maioria, meio a tragédia que afeta a todos e que coloca a todos em estado de igualdade.

A nova educação leva o ‘Ser’ a admirar a criação pela riqueza que suas diferenças agregam à própria experiência de vida. Já, aquele que só busca seus iguais permanecerá com medo e agarrado ao desconforto do próprio preconceito.

As cenas dramáticas e muitas vezes desesperadoras que disparam descargas súbitas de adrenalina e cortisol nos afetam de tal forma, – toda uma mudança física, emocional e psíquica – que a nossa essência humana e natural eclode do fundo do ser na expressão de um amor universal, afogando o egoísmo de que cada um se serve para preservar esses pseudos valores que só levam a adoecer quem os alimenta e quem, por eles, é vitimado.

Podemos perceber que o tema central, aqui, trata da grande dificuldade que o ‘Ser’ tem de saber de fato quem ele é, e o que melhor representa sua própria essência. Esse é um dos maiores indicadores de que definitivamente não exercitamos o hábito de nos analisar e refletir sobre o que fazemos, de como nos sentimos diante do que fazemos e de que forma podemos contribuir para fazer a diferença frente as circunstâncias da vida, sejam elas reflexos das injustiças, da falta de respeito humano, ou não.

E assim, inadvertidamente vivemos. Nos indignamos quando presenciamos algumas situações na vida que covardemente incomodam ou ferem alguém; nos reconfortamos com outras tantas quando, direta ou indiretamente, tais atitudes mesmo que erradas nos ‘vingam’; nos retraímos quando, diante de um ato desumano ou covarde, evitamos nos expor por nos sentirmos impotentes e com medo para ajudar quem precisa. E ao final de cada situação pela qual passamos, seja ela qual for, sempre seguimos adiante, assustados pelos fantasmas que ficam e evitando pensar muito a respeito das experiências que nos marcaram para sempre.

Mas por que nem sempre a forma que escolhemos para agir, expressa genuinamente o que sentimos e o que nos representa? Por que não é incomum ver uma pessoa apresentar uma atitude hoje e outra diferente amanhã, com relação a um mesmo assunto ou situação?  Porque somos humanos e o ser humano está em constante transformação. E por mais que aumentemos nosso conhecimento, olhando o universo de nosso ponto de vista, fica muito claro que ninguém sabe coisa alguma do outro e, muito menos ainda, de si próprio.

Se nos olharmos com atenção perceberemos que diante de tantos papéis, e papéis complexos que assumimos na vida, escolher agir sempre em conformidade com a própria essência do que somos, é libertador. Porém, se quisermos entender que somos ‘quem achamos que somos’, ou ‘quem queremos ser’, ou ‘quem achamos que os outros esperam que nós sejamos’, ou ‘quem somos a cada momento’ nos abandonamos e terminamos frustrando a todos, inclusive a nós mesmos por tentar ser o que não somos e fazer aquilo que não nos representa. Mas se levarmos em conta que nossa essência é psíquica – espirito – e que justamente por nos expressarmos emocional, psicológica, e fisicamente, devemos viver considerando o fato de sermos um espírito, nos atenderemos melhor por tomarmos decisões mais coerentes com a nossa realidade ‘Integral’. Mesmo que essa realidade esteja em constante construção e transformação. Somente dessa forma poderemos encontrar autêntica paz íntima e harmonia social.

O que importa é que pessoas mudam e a melhor ferramenta para isso é a educação.

Porém, podemos optar por deixar o ‘fluxo’ da vida seguir nos ensinando através das situações extremas de dor e sofrimento, o que está cada vez mais frequente, ou podemos assumir a autoria da reconstrução de um ser novo e de uma vida nova se tornando verdadeiro protagonista de nossa própria história ao invés de ‘espelhar’ a história dos outros. Agir assim até a adolescência, é até esperado. A partir daí, é autosabotagem e desestruturação de identidade. Não à toa, temos tantos jovens e adultos em conflitos existenciais que terminam desenvolvendo os mais variados transtornos de comportamento.

Com esse propósito precisamos de uma educação que nos oriente a ter ‘olhos’ e ‘contato’ com os valores que cada ser traz dentro de si; de olhar o outro pelo valor de suas experiências, de suas conquistas, de seus sentimentos; que estimule a nossa sensibilidade para podermos conhecer e aprender, através de relações respeitosas e dignas o que cada pessoa tem a oferecer, ou não, não importando a raça, o partido ou a religião que apresente; uma educação que desperte a empatia e o respeito pelo outro. Tudo através do exemplo, da experiência vivenciada, integrando a criança desde pequena à iniciativas e trabalhos que despertem a consciência ao que é de fato importante: o ser humano e os seus sentimentos.

Somos seres humanos, sensíveis, delicados e frágeis em todos os aspectos e campos de expressão. E se por conta disso gostamos que nos tratem com respeito e delicadeza, precisamos ter em conta que todos também têm esse direito. Isso é justo e humano.

Não ensinar o ser, desde a infância, a não discriminar alguém ou a reprimir essa tendência quando ela se manifeste, é ajudar a promover a indiferença social que se inicia dentro de nós, fadando esse ser a ficar refém de si mesmo, até que algum sofrimento surja diante dele para resgatá-lo de si próprio; para resgatá-lo desse ‘espasmo’ de comportamento – preconceito – a que se entregou.

Precisamos educar cada um de nós para compreender que o preconceito é uma espécie de holografia que, reflexo do mais profundo egoísmo, alijou do mundo os direitos do homem; que foi responsável por uma infinidade de dores e sofrimentos contra o ser humano, tendo como instrumento dessas dores e desses sofrimentos o próprio ser humano.
É tudo muito triste, humanos sangrando humanos, humanos perseguindo humanos, humanos humilhando humanos, e ao final, diversas leis instituídas para reprimir pela força o que não se conscientizou através da educação e do amor: lei contra racismo, lei contra homofobia, lei Maria da Penha, lei contra a Intolerância Religiosa, Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto do Idoso, entre tantas outras. Todas aprovadas, vigentes mas desrespeitadas repetidas vezes por inúmeros atormentados e perseguidos pelas próprias culpas, revoltas, sentimentos de ódio e de vingança.

Esse é o lado ‘B’ do preconceito.

A chave é a Educação que tem o poder de tudo resolver. Mas seu poder é tão grande, tão mobilizador e tão rápido de promover mudanças em todo o espectro social, que os maiores déspotas do mundo sempre a temeram e de tudo fazem para comprometê-la.

No exercício de olhar o mundo para poder ajudá-lo, todo ‘Ser’ aprenderá a amar com o amor que receber.

A luta, acreditem, não é contra o preconceito, a luta é pela conscientização através de uma educação ‘Integral’; de uma educação que mergulhando a consciência do ‘Ser’ no universo atômico e cósmico leve todos a perceberem que tamanha engenhosidade existencial de que desfrutamos e testemunhamos diariamente, não existe para justificar uma desagregação social, – caprichos de pequenos grupos –  mas para iluminar e enriquecer toda a humanidade através das suas ricas diferenças.

Quando os parâmetros que aferem e conduzem uma sociedade são o respeito, a dignidade, a justiça e o amor, a cor da pele e a aparência de alguém, seu nível social, suas crenças ou seu poder econômico se torna, diante do valor que cada um potencialmente tem a oferecer como ser humano, assunto exclusivo de cada um e de mais ninguém.

Quando o ser humano pára diante de um universo que ignora por completo em quase todos os seus aspectos, e se acha no direito de afirmar quem é importante e quem não é, quem merece consideração e quem não merece, quem deve ser priorizado e quem não deve, demonstra nitidamente que não faz a menor ideia do que faz, e muito menos de quem seja. Podemos dizer que é justamente daí que surge o preconceito: do egoísmo do homem que perdido de si mesmo se afastou dessa inteligência maior que a tudo cria e sustenta, não importa o nome que se lhe dê.

A única coisa que podemos afirmar com certeza é que somos seres humanos. Do mais simples ao mais preparado, do mais desprovido àquele com mais recursos. E se há diferenças no mundo, ou é porque elas são importantes para o aprendizado e crescimento de todos, ou porque nós as criamos. E havendo algo que possamos fazer para atenuar o sofrimento daqueles que pelas suas diferenças são incompreendidos, desrespeitados, humilhados, agredidos e preteridos, façamos o que estiver ao nosso alcance; mas façamos rápido e façamos com o recurso da ‘Educação’ que prioriza sempre a verdadeira humildade e a verdadeira caridade.

UNIVERSOS DO SER. Centro de Educação e Atendimento do ‘Ser’ com foco no autoconhecimento e na Saúde Integral para uma Vida Nova.