Se pararmos hoje, após toda a experiência vivida com a pandemia, e decidirmos perguntar a todos os envolvidos na área da educação, qual o extrato de toda a experiência vivida pelos alunos, pais e escolas nos últimos dois anos, o resultado será uma grande interrogação. Muito mais pelo que a pandemia revelou do que por ela própria. Crianças interessadas, envolvidas, engajadas, querendo aprender, totalmente comprometidas com o estudo e com o que o futuro pode lhes reservar, atravessam qualquer cenário, por mais difícil que seja, e conseguem se recuperar de possíveis danos e prejuízos. Pois têm foco claro e carregam vontade e determinação. Mas não é essa a realidade que temos vivido em nossa trajetória educacional.
Por não terem a menor ideia do que fazer realmente, pois a questão que vem de longa data, – pré-pandemia -, já demonstrava uma espécie de falência do sistema de ensino, tanto os investidores quanto inúmeros profissionais da área, saem apostando todas as fichas em tecnologia, gameficação, sistema de ensino híbrido, plataformas digitais, dispositivos com apps, para gerar engajamento e não perder mercado. Vai funcionar?
Apesar do fato de que muitos jovens estavam se asfixiando em profundas angústias, com crises depressivas e de ansiedade por permanecerem em casa por tanto tempo, querendo voltar às salas de aula; apesar do estranhamento de terem tido que ativar para estudo e provas, plataformas e dispositivos que eram reconhecidos apenas como ambientes de área de lazer, o que gerou desconcentração por parte da maioria por ativação das redes sociais em horário de aulas; apesar de inúmeros professores se desdobrarem para aprender a fazer algo que não tinham sido preparados e que nem apresentavam vocação – dar aulas online – com receio de perderem o emprego, o que gerou um verdadeiro show de besteiras e atrocidades que viraram memes em grupos fechados de inúmeras redes sociais; apesar de se poder fazer as provas em grupo e com consulta o que não evitou, segundo pesquisas, que grande percentual de alunos ficassem com média abaixo de 4.0 em 10, e isso promover um êxodo em busca de professores particulares que passaram a fazer parte do cenário de estudo dos alunos com suas metodologias próprias que conflitam com a das escolas, duas coisas ocorreram: todos percebemos o caos e o despreparo que foi toda esta experiência durante esse longo período, o que levou famílias a duvidarem do sistema educacional e das escolas de seus filhos, e as instituições de ensino passaram a assumir, sem desejar, um gigantesco e enorme desafio: provar que a falência e o despreparo desses dois anos não representam suas propostas educacionais, suas filosofias de atuação e muito menos um corpo docente fraco.
Analisando de perto, a situação é mais difícil e delicada do que aparenta.
As escolas apostarão em modernização de métodos e de tecnologia digital. Mas não poderão se descuidar do mais importante: O aluno e o sistema de ensino. Fragilizado na suas estruturas psíquicas, emocionais, psicológicas e cognitivas precisam de uma nova educação.
Alguns empresários e responsáveis da estrutura do poder da área da educação acreditam que mais uma vez se trata de uma questão para soluções ‘provisórias’, e que o tempo agirá em favor do esquecimento desse episódio triste para o país em termos de saúde, tanto quanto para a educação. E sustentam essa opinião pelo histórico de experiências graves que o Brasil já atravessou e que permaneceu passivo diante delas. Não acreditamos nisso mesmo. Não na era das redes sociais.
Em verdade, vislumbramos uma ruptura no processo de aprendizagem que será tomado, não pelas rédeas das escolas que vão buscar se aparelhar tecnologicamente, mas pela própria internet que através de grandes empresas digitais vão buscar esse público em potencial. Mas este é um assunto para outra pauta. Com a pandemia e toda essa comoção, algumas questões que estavam adormecidas no assoalho desse grande mar morto começaram a vir à tona e percebeu-se que a pandemia é moral e que se alastrou, queiramos aceitar ou não.
O desempenho, por exemplo, há mais de dez anos, dos alunos brasileiros no Pisa, exame internacional de educação realizado pela OCDE – Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que cada vez que é tornado público, envergonha toda a nação e as escolas públicas e privadas, por manter sua média de pontuação sempre entre as últimas posições do mundo; o aumento exponencial de crianças analfabetas e totalmente comprometidas com o desenvolvimento do próprio raciocínio; a total falta de interesse da criança em aprender no modelo de ensino existente; professores concursados ou não, totalmente despreparados para darem aula e promover a implementação de qualquer sistema educacional; o desânimo por parte dos professores de se sentirem reféns de um sistema que se mostra insuficiente e incapaz de se renovar; a total falta de engajamento, interesse e compromisso por parte do corpo docente em rever processos que possam ser mais efetivos dentro do modelo de ensino aprovado; alto nível de ansiedade dos professores por se sentirem despreparados frente a esta nova demanda reprimida de professores que saibam dar aulas online – de maneira, dinâmica, leve, divertida ou se necessário, performática -; professosres que são verdadeiras máquinas de despejar conteúdo, no único interesse de cumprir uma pauta, sem interesse real pelo processo de aprendizagem de seus alunos, ou seja, buscar descobrir o que o aluno já sabe, o que quer aprender, qual o significado que aquele assunto possa vir a representar e ter para ele, buscar compreender qual a base de conhecimento que trazem, e qual o centro de interesse que pode ser utilizado na aprendizagem; outra realidade revelada são crianças desrespeitosas, agressivas, violentas e ameaçadoras que põem a vida dos professores e a de outros alunos em risco; abusos de toda ordem, bullying, coerção física e moral; suicídios e crimes dentro das escolas, entre inúmeras outras tragédias que descrevem a realidade dfo ensino em nosso país.
Quando olhamos o resultado dessa falência refletida no país, a situação ganha uma visibilidade muito sombria.
Segundo o Inaf – Indicador de Alfabetismo Funcional, que pesquisa há décadas o assunto em questão, temos mais de 70MM de brasileiros analfabetos funcionais; apenas 12% da população brasileira em idade para trabalhar, capazes de entender e de se expressar por meio de letras e números; apenas 8% dessa mesma população ‘proeficientes’ (com condições mínimas de pensar e produzir conhecimento), apenas 4,5% dos estudantes no Ensino Médio apresentando aprendizagem adequada em matemática e somente 1.6% em lingua portuguesa.
E as escolas e cursinhos se degladiando na mídia, vendendo garantia de resultado no ENEM e garantia de ingresso nas melhores universidades do país, usando para isso meia dúzia de jovens dotados, dedicados e comprometidos com o estudo, que em troca de bolsas integrais, emprestam seus nomes e imagem para propaganda desses ingressos tão valorizados a peso de ouro, dando aval às instituições que assim procedem para dizer que são as melhores opções do mercado por conquistarem ingressos nessas disputadíssimas universidades.
E se você, leitor, acha que esta análise superficial está se aproveitando do momento delicado pelo qual todos passamos, fazemos questão de lembrar uma frase de uma professora de português, proferida em uma aula do 8º ano de uma escola do ensino público no bairro de Moema, na cidade de São Paulo, um pouco antes da pandemia, quando dissertava a respeito de condicionamento social a que estamos todos, de alguma forma, submetidos.
“Vocês (se dirigindo às crianças) precisam entender que são constantemente condicionados a serem a mão de obra da sociedade, a serem a mão de obra dos ricos e dos poderosos, de um mercado de trabalho duro e implacável. E não há o que se fazer contra isso. Vocês todos que estão aqui (se dirigindo às crianças na sala) precisam entender que vão ser os futuros pedreiros, frentistas, manobristas, porteiros, motoristas, diaristas, lavadeiras da nossa sociedade. E precisam entender que isso vai acontecer porque com a realidade que vivem e trazem com vocês não dá para ser diferente. A sociedade precisa e vai exigir isso de vocês.”
O que mais impressiona nesta frase é que todas as crianças daquela sala depois de ouvirem-na de forma impassível, permaneceram quietas e sem esboçar nenhuma reação, sequer a de um ideal ou de um sonho.
Diante de tal episódio vale recordar o que disse Kailash Sayarthi em seu discurso de recebimento do Prêmio Nobel da Paz em 2014: “Não há violência maior do que negar um sonho a uma criança”.
O que agrava ainda mais o problema, é que os novos alunos que nascem dentro desse sistema, acham isso extremamente normal. Desprovidos de qualquer senso crítico ou critério, já que são levados a acreditar que não podem mudar a própria realidade e que devem aceitar passivamente o que lhe oferecem. E uma vez que não são devidamente conscientizados do direito que têm de reflexionar a respeito do assunto e de que podem questionar o sistema através de iniciativas e propostas inovadoras, partem para caminhos que possam realizá-los de maneira mais rápida e satisfatória. Impossível competir, nesse quesito, com as drogas e a internet com todo o arsenal de estímulos que oferece. E uma vez dentro delas, a criança parte em busca de realizar virtualmente o que não aprendeu a fazer na vida real. Nesse mundo digital a criança e o jovem podem ser quem ou o que quiserem.
Mais tarde, aqueles que não querem desistir saem em busca de auxilio para ingressar no Ensino Superior através do recurso fornecido pela Lei de Cotas, uma lei que nasceu para atender pessoas desprestigiadas de recursos financeiros e vítimadas pela falta de inclusão. Não um recurso para colocar pessoas despreparadas e analfabetas dentro de uma universidade sem a menor condição de cursá-la e de permanecer dentro dela. Não se cria ‘inclusão’ empurrando pessoas para onde não se sentem acolhidas ou preparadas para se expressar. O recurso pode ser bom mas não substitui o trabalho educacional que está por se fazer.
Entendemos que igualdade de oportunidades só ocorre quando os começos são iguais para todos. O aluno sem recurso precisa primeiro de resultados melhores para, aí sim, poder usufriur de um recurso que o ampare economicamente. Isso sim, é conceito de inclusão. Quem estranha a colocação que verifique o percentual de formados atraves dessa frente de incentivo.
A falência do ensino exige uma reação imediata e direta na proposta educacional, na metodologia e na forma do aluno de se ver como um ser humano mais capaz e completo.
Nossos déficits são de base. Mas isso, ao contrário do que se possa vir a pensar, não quer dizer, ‘necessariamente’, que o atraso que vivemos nos coloca em uma condição ‘terminal’. Estamos todos aprendendo muito com isso. A situação em que nos encontramos é favorável a um reinício com todo o aprendizado que o Brasil adquiriu e com o enorme legado que os países que se reergueram, das mesmas condições, têm para nos ensinar. Há muito a se fazer.
O que não podemos mais é tratar deste assunto com olhos viciados apenas nos ganhos e nas manobras políticas e financeiras do mercado. Precisa-se considerar as perdas, que são muitas, e que somam desde alguns anos muitos desafios a todos os envolvidos.
Dentre as inúmeras iniciativas possíveis que poderemos abordar e trabalhar detalhadamente em um momento mais oportuno como, por exemplo, inovações ainda no pré-escolar que possam levar o pequeno estudante a começar a se tornar protagonista na sua própria sociedade do conhecimento; desenvolvimento de atividades de ‘aprendizagem’ e não somente de ensino, que os estimulem a pensar, refletir e debater, entre outras aquisições iniciais, afirmamos que o foco primeiro precisa estar no ‘Ser’. Não se trata só de falar em ensino ‘humanizado’, ‘inclusivo’. Mas de promover uma visão do ‘Ser’ dessas crianças. Pequeninas, frágeis, delicadas e dependentes de nossas melhores habilidades e competências. Habilidades e competências que devem estar presente em todos os atores desse processo educacional. Quando tentamos impingir uma visão humanista a desinteressados e indiferentes, não podemos esperar mudanças, porque aquela ‘visão’ ao invés de se tornar uma experiência de ‘transformação’, irá se tornar uma apenas uma pauta, um conteúdo programático a ser implementado e forçosamente seguido por diretores, coordenadores pedagógicos, professores e assistentes.
Todos precisamos ser trabalhados! Todos, sem excessão! Caso contrário teremos apenas pequenos grupos dentro das escolas e universidades comprometidos com essa renovação. E grupos que terminarão precisando debater o tempo todo, com frentes de resistência política, ideológica ou até pessoal, que no interesse de prevalecer o ‘seu’ ponto de vista não cederá e não trabalhará pelo bem comum.
Esse exemplo deve partir de cima, inclusive dos investidores que querem e devem buscar o seu lucro, mas que podem e devem fazê-lo ‘exigindo’ construção ‘social’, ‘educacional’ e ‘humana’.
Dessa forma conseguimos oferecer autonomia da aprendizagem que quando desenvolvida corretamente estimula a criança, o ‘Ser’, a aprender continuamente. E este é um processo que quando implementado leva a criança a querer se envolver com a aprendizagem de maneira contínua, não importando se serão aulas presenciais, online, híbridas, se serão nas férias, nos finais de semanas, aonde estiver, tornando a criança ativa na busca do conhecimento.
O método de trabalhar, de preparar e de estimular cada equipe, cada grupo de cada escola e de seus respectivos professores não precisa e nem deve ser o mesmo. Precisa considerar cada perfil de grupo e cada filosofia educacional. Mesmo que as escolas estejam trabalhando com metodologias de ensino ativas. Isso, porque cada um traz consigo seu próprio material a ser trabalhado: alunos, coordenadores, supervisores, diretores, empreendedores, e assim por diante. E a riqueza de possibilidades é infinita, e nenhuma é mais importante do que outra.
Explicamos:
A FORMA como o ‘Ser’ se sente visto, analisado, avaliado, parte integrante, questionado e estimulado, infere profundamente nos universos de expressão que ele traz em si, e do qual se utiliza para se comunicar com ele mesmo e com o mundo ao seu redor; ele faz isso ‘scaneando’ e ‘registrando’ nele próprio as ideias desse mundo e dele mesmo, e através das impressões que vive de suas experiências e relações. A maneira como isso se dá é cheia de variáveis. O assunto é extenso e não pretendemos esgotá-lo aqui.
Mas importa saber que quando estudado e compreendido, tal processo cria recursos poderosos de ‘interação’, ‘autorização’ e ‘confiança’ entre aluno e professor.
Dessa forma, qualquer metodologia encontra as melhores disposições por parte das crianças, dos jovens e até dos responsáveis para interagir o processo de aprendizagem, em niveis maiores e mais profundos. Devida a nossa experiência com alunos de baixa e alta renda, podemos afirmar que para qualquer aluno aprender, ele precisa estar devidamente preparado e interessado. E esse preparo vem através do desenvolvimento da ‘Autocomunicação’. A capacidade de uma criança aprender a se comunicar com ela mesma e com o mundo através de seus diferentes universos de expressão: psíquico-emocional-psicológico-cognitivo.
Isso é o que gera engajamento real; isso é o que na linguagem da comunicação digital chamamos de qualificar o ‘lead’.
Mudar sempre é possível, não importa quão difícil e desafiadora seja a tarefa. Basta reunir as melhores cabeças, começar a pensar no todo, trabalhar em equipe e colaborar com respeito, amor, consideração e humildade. Com determinação, foco e muita vontade, tudo pode ser feito; projetos podem ser criados, desenvolvidos e implementados pelo bem da educação e de um Brasil melhor. E isso traz lucro.
As escolas que conseguirem entender isso e souberem trabalhar de maneira a dar esse aporte aos seus profissionais, ao seus professores, aos seus alunos e às famílias destes, se apropriará de uma nova era da educação do ‘Ser’ no Brasil.
UNIVERSOS DO SER. Centro de Educação e Atendimento do ‘Ser’ com foco no autoconhecimento e na Saúde Integral para uma Vida Nova. Trabalhando junto pela educação e pela saúde integral de nossas crianças.